#6 - Resenha: O Senhor das Moscas, William Golding


Qual é a tendência natural do ser humano ao viver em grupo? Uma sociedade consegue se manter sem governo, sem lei, sem polícia, sem um líder? O ser humano é naturalmente bom ou ruim? O que fala mais alto a solidariedade ou a violência? 

É dessas questões que o livro O Senhor das Moscas de William Golding trata.

O mundo está em guerra. Uma bomba atômica atinge o país, mas felizmente o governo consegue colocar um grupo de meninos no avião a tempo de fugir. No meio do caminho, o avião é atingido e partido ao meio. Meninos de 6 a 12 anos caem numa ilha paradisíaca sem nenhum adulto por perto. De início, alguns garotos ficam felizes com a ideia de não ter adultos por lá e resolvem se organizar para viver da melhor maneira possível juntos enquanto não são resgatados. Por votação, Ralph é escolhido como o chefe, ele é um líder natural e sabe envolver as pessoas, mas não é tão inteligente como o menino tímido e atrapalhado apelidado de Porquinho, então todas as suas decisões, voluntaria ou involuntariamente, acabam sendo peneiradas pelas sugestões de Porquinho. Jack, um menino mandão, fica insatisfeito de não ter sido escolhido como o chefe, mas acaba aceitando a decisão e se torna amigo de Ralph... por um tempo. 

Depois de uns dias organizados naquela pequena sociedade, os problemas começam a surgir: nem todos os meninos ajudam nas tarefas, alguns são pequenos demais e vistos como inúteis pelos maiores, as diferenças começam a surgir, fome, frio...

Jack, que se intitulou um caçador e se esforçava para matar porcos e levar carne para os meninos, se revolta com o jeito de Ralph liderar, pois sua prioridade era apenas manter a fogueira acesa para a fumaça servir de sinal caso um navio passe. 

Ralph tem planos a longo prazo, Jack a curto. 

Os dois começam a se estranhar e Jack resolve formar um grupo onde ele dita as regras, acontece que ele se revela um líder ditatorial, diferente de Ralph, que é um líder democrático.





ANÁLISE: 

O Senhor das Moscas ou O Deus das Moscas é outro nome dado ao demônio Belzebu. A partir dessa informação já é possível perceber a ideia pessimista do autor em relação ao humanidade, o motivo talvez seja porque William Golding foi soldado na Segunda Guerra Mundial então ele presenciou de perto as atrocidades que o ser humano é capaz de cometer.

O livro foi escrito em 1954, poucos anos depois da Segunda Guerra Mundial e em plena guerra fria. A história pode fazer uma alegoria a essa guerras, mas também aos governos e líderes de hoje em dia: 

Jack é forte, é sagaz e passa segurança para todos, ele se aproveita do medo dos pequenos, que acham que existe um Monstro na ilha, para unir os meninos contra um inimigo em comum. Apesar de ser revelar um líder tirânico e ditatorial que governa através do medo e da punição, ele consegue seguidores fiéis devido a situação complicada que a sociedade passa. Ele promete alimentar os meninos e realmente cumpre com sua promessa, ele faz os meninos pintarem o rosto e cantarem canções de caça, o que traz uma sensação de pertencimento a um grupo. Ele também tem uma postura assustadora, por isso tudo o que ele faz é tolerado por seus súditos sem questionamentos e, quando os demais seguem ordens que não são muito agradáveis, eles afirmam que só estavam cumprindo ordens.
  
Ralph é racional, carismático e um líder democrático que pensa a longo prazo, e seu objetivo é sobreviver, mas como os meninos querem soluções imediatas para seus problemas na ilha, Ralph acaba perdendo a força como líder. Além do fato de que ele não consegue liderar sozinho, pois precisa da ajuda intelectual de Porquinho para tomar decisões. O autor mostra a democracia bem frágil em momentos de crise. 

Numa situação conturbada como a dos meninos na ilha, será que você não ficaria tentado a ficar no grupo de Jack, onde tem um líder ditatorial, mas também tem comida, diversão e identidade de grupo?

Porquinho é chorão e medroso, mas é a força intelectual e racional que apoia a democracia. 

medo e a incerteza do futuro unem os meninos, eles são o estopim da barbárie, tudo passa a ser válido para destruir "o Monstro". O medo justifica a violência.

Você não consegue ser a mesma pessoa depois de ler esse livro. Não foi a toa que essa obra ganhou o prêmio nobel de literatura.

"E no meio deles, com o corpo imundo, o cabelo emaranhado e o nariz precisando ser assoado, Ralph chorava o fim da inocência, as trevas do coração humano."



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