#5 - Resenha: Fahrenheit 451, Ray Bradbury


Imagine um mundo onde as pessoas passam o dia inteiro na frente de uma tela vendo programas imbecilizantes ou com fones de ouvido tocando músicas idiotas 24 horas por dia. Um mundo onde as pessoas quase não conversam, ou se conversam são assuntos superficiais e fúteis. Um mundo sem sentimentos, onde as pessoas vivem a base de pílulas para fazer qualquer coisa. Um mundo onde a arte é completamente abstrata, sem sentido, e não passa nenhuma mensagem. Um mundo em que o governo se preocupa em colocar as crianças cada vez mais cedo na escola para educar o filho das pessoas e acabar com a influência da família.

Eu sei que você pensou no mundo em que vivemos hoje, no século XXI, mas esse mundo que vou falar é do livro Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1953.
Mas o mundo não é assim porque um governo ditatorial exigiu que fosse, e, sim, porque a maioria da população resolveu abrir mão de sua liberdade para não ter mais sentimentos, não sentir mais dor, não chorar mais e em troca teriam uma vida sem sentimentos, sem conflitos, baseada nos prazeres do entretenimento e do consumo. 

E uma das medidas dessa sociedade foi abrir mão dos livros. 

Os livros se tornaram completamente proibidos.

As justificativas para essa medida foram que livros davam um ar de intelectualidade: algumas pessoas se acham melhores que outras por terem lido vários livros. Os livros traziam conflitos, faziam as pessoas chorar, sorrir, se angustiar.

São objetos perigosos que causam pertubação social. 

E aquela sociedade não queria nada isso, ela apenas queria seguir a vida sem sentimentos, principalmente sem os sentimentos ruins. Por isso, os bombeiros nessa realidade não apagam fogo, na verdade, eles colocam fogo em qualquer livro que encontrar. 

Se alguém, por exemplo, desconfiasse que seu vizinho tem livros em casa, ele faz uma denúncia e os bombeiros chegam rapidamente para averiguar e colocar fogo. Esse momento é visto como um espetáculo e todos saem de casa para assistir as chamas.
O livro é contado por um dos bombeiros, Ruy Montag. 

Ele vivia bem com sua vida e profissão até que conhece uma menina chamada Clarisse. Ela era considerada estranha, pois gostava de passear na rua, conversar, sentir a chuva caindo em seu rosto. Coisas completamente anormais naquele mundo onde ninguém tem tempo para ninguém. Ela conversa com ele, fala sobre sentimentos e mostra as pequenas coisas da vida que ela considera importante. E uma noite, quando ele chegou em casa, viu sua mulher desmaiada no chão por ter tomado cerca de 30 pílulas, depois de chamar o socorro e de colocá-la para dormir, ele se questionou sobre seus sentimentos por ela. Ele percebeu de que não sentia absolutamente nada e se sentiu culpado ao perceber que, se ela morresse, ele não choraria.

E então, ele se sentiu culpado por se sentir culpado. Já que era normal não sentir nada naquele mundo.

Enquanto ele se questionava sobre essa falta de sentimento no mundo, houve uma ocorrência em seu trabalho. Os bombeiros seguiram para a casa onde deveriam queimar os livros. Lá havia uma mulher que se recusou a sair e decidiu ser queimada com seus livros. Ele insistiu para a senhora sair do local, mas ela não aceitou. A partir daí, além de questionar sobre a falta de sentimentos, ele também passou a questionar qual era o poder dos livros sobre as pessoas. Afinal de contas, por que alguém escolheria morrer por algo se não fosse realmente importante? 

Naquele dia, Montag rouba um livro e esconde em sua casa e, quando resolve lê-lo, percebe o mundo terrível em que vive e resolve se tornar um rebelde que luta contra o governo. 

FRASES DO LIVRO QUE TALVEZ VOCÊ SE IDENTIFIQUE

"Ninguém tem mais tempo para ninguém." - pag. 43

"As pessoas não conversam sobre nada. O que mais falam é de marcas de carro ou roupas ou piscinas... E, nos bares, ligam a tv e são sempre as mesmas piadas, ou o telão musical está aceso e os desenhos coloridos ficam subindo e descendo, mas é só cor e tudo abstrato. Você já foi alguma vez no museu? Tudo abstrato. Meu tio diz que antigamente os quadros às vezes diziam alguma coisa ou até mostravam pessoas." pag. 51

"O ambiente familiar pode desfazer muito do que a gente tenta fazer na escola. É por isso que temos reduzido a idade mínima para admissão no jardim de infância, ano após ano, até que agora praticamente estamos apanhando as crianças no berço." pag 84

"Se o governo é ineficiente, despótico e ávido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso. Promova concursos em que vençam as pessoas que se lembrarem da letra das canções mais populares ou dos nomes das capitais dos estados ou de quanto foi a safra de milho do ano anterior. Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com "fatos" que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí reside a melancolia." pag 84

O autor dessa obra acertou sobre o futuro tanto quanto George Orwell em seu livro 1984 e Adouls Huxley em Admirável Mundo Novo.


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